sábado, 23 de fevereiro de 2013


Ator Pós-Moderno

De agora em diante,
não mais encarnarei fantasmas
de outro tempo e lugar.
Estou farto de expelir palavras alheias,
paixões importadas,
retórica elisabetana e absurdo francês.
Agora, no tablado ou em qualquer parte,
serei eu mesmo, eu próprio, ego ipsum
eu e eu, presença onipotente
na plenitude deste aqui-agora.
Meu corpo enfim, despido de personas,
será servido no banquete das sensações,
vida a vazar das veias,
sem outra metáfora senão o sangue jorrando
na epiderme desta aura intransferível.
Fora a corcunda de Ricardo III, a tiara de Blanche Dubois,
Não mais! Não mais!
Longe de mim os heróis do povo, os vilões
capitalistas de casaca,
as velhas beatas e todas
as histéricas nelson-rodriguianas!
Eu, apenas eu, euzinho pura e simplesmente,
na entrega de meu corpo irredutível
à vertigem do olhar.
Abaixo a representação, o eterno macaquear de seres de papel!
Todos saberão que sou eu, eu mesmo, o único
autor e executor
deste campo irradiante de energias.
Eu enfim meu tema e assunto e circunstância,
na pura epifania de mim-mesmo!

Só um detalhe ainda me atrapalha
e bem sei quem mora aí:
ninguém menos que Mephisto,  o arqui-inimigo
o intrigante, o embusteiro, o pai das ilusões.

Só um detalhe, um mísero detalhe:
- Quem sou eu?

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