Ator
Pós-Moderno
De agora
em diante,
não mais
encarnarei fantasmas
de outro
tempo e lugar.
Estou
farto de expelir palavras alheias,
paixões
importadas,
retórica
elisabetana e absurdo francês.
Agora,
no tablado ou em qualquer parte,
serei eu
mesmo, eu próprio, ego ipsum
eu e eu,
presença onipotente
na
plenitude deste aqui-agora.
Meu
corpo enfim, despido de personas,
será
servido no banquete das sensações,
vida a
vazar das veias,
sem
outra metáfora senão o sangue jorrando
na
epiderme desta aura intransferível.
Fora a
corcunda de Ricardo III, a tiara de Blanche Dubois,
Não
mais! Não mais!
Longe de
mim os heróis do povo, os vilões
capitalistas
de casaca,
as
velhas beatas e todas
as
histéricas nelson-rodriguianas!
Eu,
apenas eu, euzinho pura e simplesmente,
na entrega
de meu corpo irredutível
à
vertigem do olhar.
Abaixo a
representação, o eterno macaquear de seres de papel!
Todos
saberão que sou eu, eu mesmo, o único
autor e
executor
deste
campo irradiante de energias.
Eu enfim
meu tema e assunto e circunstância,
na pura
epifania de mim-mesmo!
Só um
detalhe ainda me atrapalha
e bem
sei quem mora aí:
ninguém
menos que Mephisto, o arqui-inimigo
o
intrigante, o embusteiro, o pai das ilusões.
Só um
detalhe, um mísero detalhe:
- Quem
sou eu?
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